segunda-feira, 12 de maio de 2008

O casamento da filha, parte 1

Ângela mal podia acreditar: a própria filha se casando. Ah, que orgulho, quanto orgulho!

E o moço! Tão bonito, bem-apessoado, um amor de pessoa! Sempre trazendo flores - quanta gentileza, imagina, não precisava.

Não ficava tão ansiosa assim desde o seu próprio casamento. Tinha dúvidas, na verdade, se não estava ainda mais ansiosa do que esteve trinta anos antes. De cinco em cinco minutos, repassava na mente todos os detalhes, para ter certeza de que não havia esquecido de nada. O vestido da filha, o sapato, o sapato da festa, os brindes dos convidados, as jóias, os docinhos... tudo certo.

Quanto a ela mesma, o vestido estava lá, lindo, sem nem um amassadinho. Havia duas horas saíra do salão. Ah, que a Dona Brigite tinha ótimas mãos para cabelos difíceis como o dela ela já sabia, mas nunca o resultado havia sido tão bom. E as unhas... Só Ângela sabia o quanto se esforçara naquele último mês para não comer nem uma lasquinha, para não arrancar nem uma pelezinha! Na volta, aproveitara para comprar dois pares extras de meia-calça, caso a comprada dois meses antes decidisse rasgar no último momento.

Não, hoje Ângela não decepcionaria nem sua filha nem sua mãe. Foram anos ouvindo reclamações de como ela nunca pensa em nada nem ninguém além de seu próprio umbigo. O último ano inteiro foi pensando só nesse dia, em como não poderia decepcionar as duas. Até a cor de vestido foi a filha que escolheu. E seguiu o conselho da mãe: passou, de maquiagem, apenas o essencial: hoje era sua filha quem deveria brilhar!

Agora, neste exato momento, achou-se pálida. Foi beber um gole de água, mas achou melhor dar uma reforçada no blush. Abre o armário, pega a caixinha, abre a caixinha, pega o recipiente arredondado de dentro dela e repara que aquele fecho não é nada ideal para alguém com as unhas recém-feitas. A pinça! Sim, com a pinça abrirá em um instante – ah, como seria bom não ser divorciada neste momento...

Com a maior cautela possível, pega a pinça e tenta manejá-la para abrir o blush. Assim, aqui, mais pra baixo, quase e... o desastre: a extremidade da pinça mais próxima à sua mão escorrega, arrancando uma grossa faixa do esmalte do dedo indicador da mão direita.

Um minuto de olhos arregalados, incredulidade e, claro, silêncio. Um precioso minuto – Ângela já está atrasada.

Tudo bem, tudo bem, sem pânico, nada de pânico. Respira fundo, ela sabe fazer as próprias unhas, já fez milhares de vezes. E opções de esmaltes não lhe faltam. Tem algodão, pouco, mas o suficiente. Tem acetona e tem palitos. Tudo certo. Só se atrasará mais uns 15 minutos. O que são 15 minutos?

6 comentários:

Anônimo disse...
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Helena disse...

Será que eu fui a primeira a ler?
Se tiver sido, dei sorte!

Gostei de verdade, Di. Já simpatizo muito com a Ângela!

beijos

Anônimo disse...

Diana!!

Bacana hein, concordo com você sobre esse tal de jornalismo, e vou entrar aqui sempre que quiser comer uma cerejinha!!

Julio Simões disse...

Uau!

Estréia tímida, porém consistente do blog, o qual desde já simpatizo. Sabe que eu venho pensando cada vez mais que eu preciso voltar a escrever ficção? Anda tão difícil, Di...

Enfim, é uma honra comentar logo no primeiro post. Voltarei mais vezes, claro, e ainda vou por um link lá no Despojo.

Beijos e não deixe a cerejinha cair da ponta do bolo.

Julio

Mariana disse...

Parabéns pela estréia, amiga! Sei dos seus anseios e acho que esse é o começo de um caminho feliz! beijoca.

Juliana Dayan disse...

Ler a narrativa ao contrário foi no mínimo interessante, já que as três partes já estavam aí...hehehe

beijo!