- Se você até me citou Kafka, amiga, eu vou.
Fabiana foi na segunda-feira seguinte até a biblioteca da FAU. Nunca tinha estado lá, e ficou surpresa com a quantidade de estudantes sentados em frente a grandes volumes abertos. Sentiu-se uma péssima estudante.
Também não estava muito à vontade. Havia caprichado muito na roupa e na maquiagem e, claramente, não pertencia àquele lugar.
Então, na mesa de estudos mais central, avistou Cristhian. Pegou uma revista de decoração francesa – a primeira que viu – e sentou-se na mesa da frente, como se não o houvesse notado.
Como aparentemente o rapaz estava muito entretido com um livro de cenários, ela achou melhor passar mais tempo escolhendo uma revista. Quem sabe o excesso de tempo que uma menina poderia passar em frente a uma pequena estante não chamaria atenção...
Deve ter ficado em pé, parada, por cinco minutos. Então teve a brilhante idéia de jogar algumas revistas no chão, acidentalmente, claro. Um segundo depois já não achava a idéia tão brilhante assim, pois não apenas Cristhian, mas toda a biblioteca voltou os olhares a ela, a menina barulhenta e desastrada.
Achou a idéia menos brilhante ainda quando percebeu que deveria ficar agachada com sua micro saia para retirar as revistas do chão. Teve a esperança de que alguém a ajudasse, mas ninguém se manifestou.
Voltou a se sentar, sem compreender porque Cristhian não fora falar com ela, apesar de certamente tê-la visto. Ficou envergonhado, só podia ser. Talvez não gostasse da forma como ela havia se vestido. Achou-a feia, devia ser isso. Lembrava ela bonita e agora que vira a verdadeira Fabiana desiludiu-se.
Ah, não. A culpa era toda de Marcela. Hoje mesmo iria tirar satisfação com a amiga. Afinal, não era a ela que Cristhian se referia no filme, mas talvez àquela menina estranha sentada ao lado dele.
Queria morrer. Era como se o livro de sua vida fosse queimado, e o príncipe encantado tivesse deixado de existir. Pior: ainda existia, mas não era mais dela.
Inspirou fundo, levantou para ir embora.
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