quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Em círculos

- Alô

- Oi, sou eu

- Oi!! Você não vem?

- Já cheguei, to aqui embaixo.

- Então sobe.

- Preciso estacionar o carro. Não tem vaga.

- Como não. Na rua, não tem?

- Não. Ta lotado. Provavelmente com o carro de amigos seus. Quantas pessoas você chamou?

- Umas trinta.

- E todas tinham que vir de carro?

- Você ta dirigindo com o celular?

- Não, to parado num lugar proibido com o pisca. Cansei de ficar dirigindo em círculos. Mas e aí?

- E aí o quê?

- E aí onde eu deixo meu carro, oras.

- Tenta estacionar em outro lugar.

- Não tem. Já rodei uns cinco quarteirões por aqui. Não tem nenhum lugar. Nenhum.

- E o que você quer que eu faça?

- Sei lá. Você me convidou. Acha uma vaga pra mim.

- Você quer que eu crie uma vaga? Quer que eu mande algum amigo embora pra você pegar a vaga dele? Não tem o que fazer. Eu sinto muito, mesmo, mas acho que você vai ter que deixar seu carro longe.

- É perigoso.

- Deixa no shopping, que é aqui perto. Aí você pega um táxi.

- To duro. Não dá pra pagar táxi.

- Ai... Eu pago pra você.

- Não posso aceitar.

- Olha, eu vou voltar pra minha festa. Se quiser vir vem, se não quiser não vem. Eu te falei desde o começo que você não precisava vir se não quisesse.

- Você não pode me buscar no shopping?

- E deixar meus convidados sozinhos?

- Ué? Você não confia nos seus próprios amigos?

- Claro que confio.

- Então.

- Então que prefiro gastar 7 reais no seu táxi do que ir até o shopping só pra te buscar.

- Nossa.

- Que foi?

- Eu não faria isso com você.

- É, pois é, somos diferentes. Talvez foi por isso mesmo que terminamos, se não me engano.

- Talvez ainda estaríamos juntos se você...

- Se eu?... Alo? Se eu o que? Ooooi! Ficou mudo agora?

- Alo?

- E aí, não vai responder?

- Desculpa, é que livrou uma das vagas aqui e eu fui estacionar. Já to subindo. O que estávamos falando mesmo?

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