sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A chave do carro (Como saber que ele é o grande amor, parte 6)

Fabiana inspirou fundo, levantou para ir embora da biblioteca da FAU.

- Quer dizer que você vem até aqui, me vê, e vai embora sem falar comigo?

Era Cristhian, atrás dela. Ela ainda se lembrava da voz dele. Virou-se:

- Eu te conheço?

- Ah, agora vai fazer que não lembra de mim.

- Não lembro mesmo. Hum, se bem que acho que já vi você em algum lugar sim... Esse jeito esnobe de falar... Você não é o cineasta falido que apareceu no café...?

- Claro que sou ele. E você viu meu filme, se identificou, e veio me encontrar?

- Filme? Não entendi nada do seu filme das meias dançantes.

- Não esse. Fiz outro! Por que to falando isso, é claro que você ta se fazendo e boba.

“Shhhhhh” – escutaram.

- Bom, licença que eu vou embora. Tchau – e, sabiamente, lançou a Cristhian um olhar desdenhoso, com uma pitada de dó. Como se dissesse: “Melhor procurar um médico”.

- Ah, não, não é possível.

“SHHHHH”

Cristhian seguiu-a até a saída. Fabiana correu um pouco em direção a seu carro, depois ficou parada olhando para dentro da bolsa, como se procurasse suas chaves.

- O velho truque de procurar as chaves...

- Ah, não... Me deixa em paz, vai...

Cristhian baixou a guarda. Disse, delicadamente:

- É isso que você quer? Mesmo? Se é isso que você quer, então vou me convencer de que foi mera coincidência mesmo eu ter te encontrado por aqui.

- Não!

- Não?

- Você não me ajudou com as revistas. Pronto, falei.

- Claro que não! E perder a oportunidade de te ver agachada com essa saia?

- Agora eu vou embora.

E saiu em direção ao carro dessa vez para partir de verdade. “Ele é um babaca mesmo, a Má tinha razão”. Mas, agora sim, não encontrava a chave.

- O quê? Não sabia que além de ingênua você era hipócrita. Você usa uma saia que bate na coxa para quê, se não é pra mostrar as pernas. Hoje não ta tão quente assim não...

Fabiana continuou com a cabeça enfiada dentro da bolsa.

- Ok, desculpa... Olha, eu e você viemos aqui hoje pelo mesmo motivo. Eu gosto de você. Você gosta de mim. Já ta evidente não ta?

- Não. E achei que pudesse gostar de você. Agora tenho minhas dúvidas.

- Ótimo! Então é melhor acabar com as dúvidas. Vem, vamos tomar um café...

Fabiana ficou tentada a aceitar o convite. Mas no momento estava muito pouco a vontade com a micro saia.

- Agora eu não posso. Tenho compromisso.

- Amanhã, sábado?

- Pode ser. Tchau.

- E seu telefone?

- O que é que tem?

- Preciso te ligar.

- Não precisa, só se você quiser.

- É, eu sei.

- Grosso!

- Que foi?

- Nada. Vai, deixa eu te falar logo meu telefone, antes que eu mude de idéia.

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