Fabiana inspirou fundo, levantou para ir embora da biblioteca da FAU.
- Quer dizer que você vem até aqui, me vê, e vai embora sem falar comigo?
Era Cristhian, atrás dela. Ela ainda se lembrava da voz dele. Virou-se:
- Eu te conheço?
- Ah, agora vai fazer que não lembra de mim.
- Não lembro mesmo. Hum, se bem que acho que já vi você em algum lugar sim... Esse jeito esnobe de falar... Você não é o cineasta falido que apareceu no café...?
- Claro que sou ele. E você viu meu filme, se identificou, e veio me encontrar?
- Filme? Não entendi nada do seu filme das meias dançantes.
- Não esse. Fiz outro! Por que to falando isso, é claro que você ta se fazendo e boba.
“Shhhhhh” – escutaram.
- Bom, licença que eu vou embora. Tchau – e, sabiamente, lançou a Cristhian um olhar desdenhoso, com uma pitada de dó. Como se dissesse: “Melhor procurar um médico”.
- Ah, não, não é possível.
“SHHHHH”
Cristhian seguiu-a até a saída. Fabiana correu um pouco em direção a seu carro, depois ficou parada olhando para dentro da bolsa, como se procurasse suas chaves.
- O velho truque de procurar as chaves...
- Ah, não... Me deixa em paz, vai...
Cristhian baixou a guarda. Disse, delicadamente:
- É isso que você quer? Mesmo? Se é isso que você quer, então vou me convencer de que foi mera coincidência mesmo eu ter te encontrado por aqui.
- Não!
- Não?
- Você não me ajudou com as revistas. Pronto, falei.
- Claro que não! E perder a oportunidade de te ver agachada com essa saia?
- Agora eu vou embora.
E saiu em direção ao carro dessa vez para partir de verdade. “Ele é um babaca mesmo, a Má tinha razão”. Mas, agora sim, não encontrava a chave.
- O quê? Não sabia que além de ingênua você era hipócrita. Você usa uma saia que bate na coxa para quê, se não é pra mostrar as pernas. Hoje não ta tão quente assim não...
Fabiana continuou com a cabeça enfiada dentro da bolsa.
- Ok, desculpa... Olha, eu e você viemos aqui hoje pelo mesmo motivo. Eu gosto de você. Você gosta de mim. Já ta evidente não ta?
- Não. E achei que pudesse gostar de você. Agora tenho minhas dúvidas.
- Ótimo! Então é melhor acabar com as dúvidas. Vem, vamos tomar um café...
Fabiana ficou tentada a aceitar o convite. Mas no momento estava muito pouco a vontade com a micro saia.
- Agora eu não posso. Tenho compromisso.
- Amanhã, sábado?
- Pode ser. Tchau.
- E seu telefone?
- O que é que tem?
- Preciso te ligar.
- Não precisa, só se você quiser.
- É, eu sei.
- Grosso!
- Que foi?
- Nada. Vai, deixa eu te falar logo meu telefone, antes que eu mude de idéia.
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