quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A incerteza é sempre um tormento (Como saber que ele é o grande amor, parte 4)

- Não, amiga. Semana que vem.

Fabiana passou uma semana procurando críticas sobre o filme na internet. Descobriu que era romântico, e que seria mais agradável ao público do Cinemark do que ao do Espaço Unibanco. Desde quarta-feira já tinha em mente qual roupa usaria. Só não estava certa quanto ao brinco e ao perfume. Afinal, ele poderia aparecer por lá.

Foi surpreendida pelo pai algumas vezes falando sozinha.

- Ai, claro que ele não vai. Já faz mais de uma semana que o filme estreou. Nem sei porque vou assistir... Mas talvez... Né? Se ele estiver me procurando...

O sábado chegou. Foi buscar Marcela e, duas horas antes de começar a sessão, já tinham os ingressos em mãos.

- Duas horas, Fabi?

- Desculpa, Má, me enganei. Achei que fosse mais cedo – mentiu.

Ficaram no café até entrar no filme, do qual saíram, duas horas depois, assustadas, perplexas, ansiosas, entusiasmadas, curiosas, duvidosas. Atormentadas. Marcela foi quem quebrou o silêncio.

- Você acha que...

- Não pode ser, né?

- Mas é tanta coincidência.

- Mas vai saber quantas meninas ele não encontra falando mal de um filme dele.

- Em um café. E uma faz arquitetura, e chama Fabiana...

- E ele promete escrever quando será o lançamento do novo filme no cardápio e não consegue...

- Só porque agora os cardápios são plastificados e.

As duas se olharam. Correram até o café. Sim, os cardápios estavam plastificados. Não era possível. Fabiana não se achava tão atraente assim para tornar-se personagem principal do filme de um diretor que conheceram por apenas 2 minutos. Não podia ser. Mas a história de como haviam se conhecido, os diálogos... Tudo tão igual. Será?

- Só tem um jeito de a gente descobrir?

- Como?

- Continuando o filme. Faz sentido, Fabi. O cara conhece a menina. Não consegue encontrá-la...

- Ele sabe que todo sábado estamos aqui.

- Vai ver ele só quer te encontrar se tiver certeza de que você também quer vê-lo. Homem!

- É. Mas isso significa que... a biblioteca da FAU?

- Acho que sim. Se no filme o cara passa todas as manhãs de segunda-feira na biblioteca da FAU na esperança de um dia te encontrar...

- Encontrar a menina.

- Tanto faz. E com certeza ele não passa de fato todas as segundas lá. Talvez desde que estreou o filme.

- To achando isso meio estranho, Má. Sei lá. Qual a chance de eu ter sabido do filme e assistido?

- Mas seria muita coincidência. Não custa tentar. Além do mais, se você não for, vai ficar pra sempre se perguntando. Acaba logo com a dúvida.

- Você acha?

- “Mesmo a mínima incerteza no assunto mais insignificante é sempre um tormento, e quando é fácil eliminá-la, como neste caso, então é melhor fazê-lo o quanto antes”.

- Drummond?

- Kafka.

- Se você até me citou Kafka, amiga, eu vou.

Nenhum comentário: