Naquele dia de verão, foi a vez de Pedro ser uma das oito pessoas que diariamente são assassinadas na cidade.
Foi a toa. Desse tipo de coisa que a gente nunca acha que nos pode acontecer. João estava no banco quando assaltantes invadiram o local e o fizeram refém. Ninguém achou mesmo que iriam matá-lo. Nem ele, nem sua família, nem a mídia, nem os policiais, nem a população. Mas mataram.
Ele não estava sozinho no momento de sua morte. Seu amigo José estava junto. Por algum motivo não divulgado, José também foi baleado. Talvez tenha reagido para salvar o amigo. A bala atingiu seu antebraço, que um dia depois, enquanto os médicos ainda tentavam salva a vida de Pedro, já estava intacto.
Com o assassinato na boca de toda a população, o governador achou melhor ir até o hospital prestar condolências ao amigo do morto. Achou-o deprimido e perguntou se podia fazer algo para ajudar.
- Gostaria de conhecer ao vivo a Daniela Cicarelli, respondeu José.
O pedido foi prontamente atendido. E eu ainda gostaria de saber como a Daniela Cicarelli diminuiria a dor de se perder um amigo. Mais: por que o amigo que teve um antebraço machucado merece a visita do governador e os amigos e familiares de todas as oito pessoas assassinadas por dia não merecem sequer uma carta de “Meus pêsames”?
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