sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Um desenho no rosto

Foi no primeiro dia em que um homem e uma mulher estiveram no planeta Terra.

Não sei se eram exatamente Eva e Adão, nem quem os colocou lá – se é que alguém o fez. Talvez já estivessem lá há tempos, mas no formato de crianças, e não de jovens. Sim, eram jovens.

O fato é que o dia estava muito quente, e essas duas pessoas banhavam-se em um riacho.

Então veio uma mosca e ficou rodeando a cabeça do homem. Ele ficou longos segundo tentando despistá-la, mas sem sucesso. Finalmente perdeu o equilíbrio e caio com o corpo todo no riacho, as pernas dançantes para cima.

E a mulher sentiu – não tenho certeza se pela primeira vez – seu rosto todo se contrair. Seus lábios forçavam-se um contra o outro e foram abrindo mais e mais, deixando pouco espaço para as bochechas que, por sua vez, foram ocupando o lugar dos olhos que por muito pouco não se fecharam.

Sem que ela pudesse conter, começou a emitir um som. Meio nasal, meio tosse. Seu nariz não parava de soltar ar em pequenos intervalos, sua barriga começou a doer de tantas contrações que realizara em tão pouco tempo.

Quando o homem retomou a si e viu a mulher em tal estado, também abriu seus lábios em forma de meia lua. Não teve tantas contrações e sons como a mulher, mas, sem que soubesse, era um sentimento igual ao dela, com menos intensidade, que tomava conta de seu espírito.

A partir desse dia, ambos começaram a inventar coisas que pudessem causar no outro e em si mesmos aquela estranha sensação, que hoje chamamos de felicidade. Foi a partir desse dia que o ser humano descobriu como é bom ouvir uma piada, ver uma palhaçada.

Não sei dizer com clareza, porém, qual foi o dia em que os ser humano se permitiu esquecer-se dessa delícia.

Nenhum comentário: