sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Parabéns para mim!

Nem um 10 compensa todo o estresse que dá um trabalho de conclusão de curso.

Mas a própria conclusão do curso, sim. Aliada então a orgulho dos pais, sorriso dos avaliadores, flores da avó, top pizza, torta de maçã com sorvete de creme e torta de chocolate com calda de frutas vermelhas... Nossa... Aí compensa mesmo!

Daqui a uns quatro anos começa tudo de novo.

Mas um outro dez eu não garanto.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Nunca a culpa é minha...

Depois de contar exatamente 6 minutos e meio olhando para uma página em branco no word, cheguei à conclusão de que hoje, dia da minha banca de TCC, não conseguirei escrever nada melhor do que exatamente estas quatro linhas. Peço desculpas. Sei que ando em falta, mas estou de mãos atadas.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Testando

Quando há um acidente,
Com ambulâncias, maca
e um monte de gente
você pára para ver o que aconteceu.

Por dó ou curiosidade?

Vou fazer um teste.
(É rápido.)
Me responda apenas isso:

Se pudesse fazer uma pergunta
a um colega do acidentado
- que por ali estivesse -
qual seria?

"O que aconteceu?" ou
"Ele tem família?"

Peço então um favor
no caso de ser a 1a opção.
Just... keep walking

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Is that simple

O problema não é esse
Não se deve
Não se precisa
Não se tem que

O problema não é isso
Trabalhar
Fazer
Acontecer

O problema poderia ser
dinheiro.
Mas não é. Não assim.

O problema é:
estudar ou... estudar.
Isto posto: não tem problema.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Diálogo entre uma menina, um livro de matemática e o livro Mrs Dalloway

Acordei e me perguntei se deveria mesmo acordar. Me perguntei. A pergunta foi dirigida a mim. Mas um livro na estante respondeu:

- O que você quer dizer com “deve acordar”?

Achei que, vinda de um livro, a pergunta era um tanto... estúpida. Respondi:

- Quero dizer se devo me levantar ou não.

- Como assim, “deve”? Você tem alguma obrigação em levantar?

Então percebi que a pergunta era um pouco mais profunda do que eu havia pensado, e, neste momento, já me vi entrando em uma profunda discussão sobre os meus deveres.

- Não é que eu tenha obrigação em acordar. Mas tenho outras obrigações, que só conseguirei cumprir se acordar.

- Bom, mas aí a resposta à sua pergunta é bastante óbvia. É evidente que deve acordar.

- Pois então. O que coloco em questão é se é mesmo necessário que eu acorde agora para cumprir com essas obrigações ou se posso dormir mais uma hora, por exemplo.

- E qual é a resposta?

- A resposta é que sim, é possível que eu cumpra com os meus deveres se acordar daqui a uma hora.

- Pronto.

- Não. Na verdade não está pronto. Você é um livro de matemática não é?

- Sou.

- Sabia. Está tudo muito lógico por aqui.

- Lógico.

- O livro ao seu lado é qual?

- Mrs Dalloway

- Perfeito! Você pode fazer o favor de chamá-lo à discussão?

- Não vejo motivo para fazê-lo, mas por que não? Um momento.

- Pois não?

- Livro Mrs Dalloway?

- Eu...
- Essa menina quer bater um papo com você.

- Ãhn? Fala.

- Oi, bom dia. É que assim. Eu tava pensando se preciso levantar agora ou se posso dormir um pouco mais. Porque eu consigo cumprir com as minhas obrigações de hoje dormindo mais, mas ao mesmo tempo eu já dormi dez horas!

- E o que é que tem isso?

- Dez horas é muita coisa pra uma menina da minha idade conseguir dormir hoje em dia. Na maioria dos casos as pessoas não conseguem dormir nem oito!

- Mas se você pode...

- Então acha que devo dormir mais?

- Não sei... Precisaria refletir mais sobre isso. Não existem outros motivos que fariam você ter que acordar? Não sei... de repente, se você acordar agora gasta mais calorias...

- Acho que isso não faz muita diferença. Eu até precisaria arrumar o meu armário, limpar as fotos do computador... Mas acho que se eu levantar agora, não vou querer fazer nada disso.

- Aí já é outra questão, não é, livro de matemática?

- Exato. Aí você não deve pensar se deve acordar agora ou não, mas se deve arrumar o seu armário ou não.

- Está vendo? Você está focando na questão errada.

- Ela estava fazendo isso desde o começo.

- Ah... quer saber? Bom dia para vocês. Estou indo para a sala ver televisão.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Uniforme

Era verão, mas a temperatura obrigava os estudantes a vestirem seus casacos. Recém saída do carro, ela ainda estava em dúvida se precisaria ou não colocar a malha azul que sua mãe trouxera de Buenos Aires, e que pegara às pressas antes de sair de casa.

Enquanto se dirigia à biblioteca, indecisa ainda, ouviu de um rapaz que nunca antes havia visto:

- Está esfriando...

Mas que insulto! Quem ele achava que era? Sua mãe? E, além disso, ela tinha uma malha! Como ele não reparara que no meio daqueles três livros havia uma malha? Ela devia tê-lo mostrado. E o que raios ele tema ver com ela passar frio? E se ela não tivesse uma malha, no que esse comentário iria ajudar? Esse era o problema dessas faculdades de humanas... Fica todo o mundo querendo fazer contato, palpitando...

Entrou e saiu da biblioteca com a malha nos braços. Foi só ao entrar na sala de aula e sentar em uma cadeira bem no centro da segunda fileira que, enfim, agasalhou-se.

A sala ainda não estava cheia, e por isso deixou de reparar nos dois fios que pendiam das laterais da malha. Eles deviam ser amarados para trás, formando um laço nas costas. Mas, sem haver quem pudesse reparar na distração da moça, e com tantas preocupações pendentes em sua mente, deixou-se ficar por cerca de vinte minutos assim, mal vestida.

Enquanto esperava a chagada da professora, lia e relia nervosamente o trabalho para ser entregue na semana seguinte. Tão concentrada, que demorou em reparar na figura que se sentou à sua frente.

Era um menino, um rapaz, com um corte de cabelo definitivamente ruim. Talvez cortado por ele mesmo, ou por sua mãe. Devia ter 19 anos. Mas o cabelo era o de menos em seu visual. Ela demorou a acreditar no que os seus olhos viam. Uniforme. Sim, ele usava uniforme. Não de policial, não de oficial, tampouco de funcionário de alguma grande empresa. Ele usava o uniforme do colégio. Uniforme completo: calça de moletom azul marinho desbotada, malha de moletom azul marinho desbotada e, por baixo desta, podia se ver a gola da camiseta, listrada e com uma sigla de quatro letras, provavelmente a do colégio, certamente público.

Que gente esquisita para haver em uma faculdade da universidade mais bem reconhecida da cidade! Coitado do menino! Então não possuía dinheiro para comprar roupas novas. Talvez mesmo o uniforme fosse de segunda mão. Ou eram presentes, brindes!, dos colégios públicos?

Devia ser inteligente, o menino. Esforçado, no mínimo. Entrar nessa faculdade não era tão difícil assim, mas também de fácil não havia nada. E sentava-se na primeira fileira. Como ela, estava só. Lia alguma coisa, mas não conversava com ninguém. Por que? Ela ainda tinha um motivo. Era nova na turma. Mas isso era raro. Seria ele novo na turma? Não... Não parecia... Subjetivamente, digo, simplesmente não parecia.

Mas que roupinha, não? Será que havia mais exemplares do conjunto? Será que ele usava uniforme também para ir ao bar da esquina? Com certeza não voltaria para casa para se trocar... E, falando em casa, onde seria a sua? Teria uma?

A professora chegou. Ela levantou-se de um pulo. Queria tirar uma dúvida antes de a aula começar. Chegou tarde, duas meninas já haviam tomado para si a atenção da professora. Foi só enquanto aguardava, de pé, na frente de todos, que reparou nos fios ainda soltos da malha. Vexou-se. Corou. Olhou para um lado, olhou para o outro. Discretamente, fez o laço por trás, com uma expressão que dizia algo como nada. Algo como “esses meus gestos de me preocuparem com os fios são involuntários”.

Falou com a professora, sentou-se, olhou para o menino de uniforme, e pensou: “Talvez seja algum aluno de colégio público mesmo. Deve ser um programa. Para conhecer a universidade”. Conformou-se. Abriu o caderno, tateou as costas, suspirou aliviada.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Como fazer o melhor sanduíche

1º) Pegue dois pães de sua preferência

2º) Acrescente manteiga

3º) Coloque três fatias de queijo

4º) Adicione duas fatias de presunto

Está faltando sabor?

5º) Inclua duas rodelas de tomate, temperadas com azeite e sal

Ainda não?

6º) Coloque uma fatia de mortadela

7º) Mostarda, maionese e ketchup a gosto.

Prove. Está faltando alguma coisa? Sim? Não? Mas não está tão gostoso, não é?

Então:

8º) Retire os molhos, a mortadela, o tomate, o presunto e o queijo.

Agora sim: experimente. Isso. Eu sei, é isso mesmo, só o pão com manteiga. Experimente!

Falta alguma coisa?

Pois é. Trata-se de uma máxima para toda a vida.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Que Pirandello fale por mim*

Deixem-me dizer só mais uma coisa, e então termino.

Não quero ofendê-los - ou à sua consciência, como vocês dizem. Sei que não querem que ela seja posta em dúvida. Tinha esquecido, me desculpem. Mas reconheço, reconheço que, para si mesmos, dentro de si, vocês são tal como eu, de fora, os vejo. Não por má vontade. Gostaria que ao menos estivessem cnvencidos disso. Vocês se conhecem, se sentem, se apreciam de uma maneira que não é a minha, mas a sua; e ainda acreditam que o seu juízo final seja o correto, e o meu, falso. Deve ser, não nego. Mas a sua maneira pode ser a minha, e vice-versa?

Eis que voltamos ao princípio!

Posso crer em tudo o que me dizem. Acredito. Ofereço-lhes uma cadeira, vocês se sentam, e vamos tentar chegar a um acordo.

Depois de uma boa hora de conversa, nos entendemos perfeitamente.

Amanhã vocês retornam, com o dedo em riste, gritando:

- Como assim? O que você entendeu? Você não me disse isso e aquilo?

Isso e aquilo, perfeitamente. Mas o problema é que vocês, meus caros, nunca entendem; e eu nunca vou poder explicar-lhes como se traduz em mim aquilo qu evocês me dizem. Sei que vocês não falam turco, sei disso. Usamos, eu e vocês, a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos, eu e vocês, se as palavras, em si, são vazias? Vazias, meus caros. E vocês as preenchem com o seu sentido, ao dizê-las a mim; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente as preencho com o meu sentido. Pensamos que nos entendemos, mas não nos entendemos de modo nenhum.

Ah, isso também é uma velha história, todo mundo sabe. E eu não pretendo dizer nada novo. Apenas volto a perguntar-lhes:

- Mas por que então, santo Deus, vocês continuam a fazer como se não soubessem disso? Por que insitem em falar de vocês, se sabem que, para serem para mim aquilo que são para si mesmos, e eu a vocês tal como sou para mim mesmo, seria preciso que eu, dentro de mim, lhes conferisse aquela mesma realidade que vocês conferem a si, e vice-versa. E isso é possível?

Infelizmente, meus caros, por mais que vocês façam, sempre me darão uma realidade a seu modo, mesmo crendo de boa-fé que seja a meu modo. E talvez seja, não digo que não, quem sabe; mas a um "meu modo" que eu desconheço e que jamais poderia conhecer, o qual somente vocês, que me vêem de fora, reconheceriam: portanto, um "meu modo" a seu uso, não um "meu modo" para mim.

Houvesse fora de nós, externa a vocês e a mim, uma senhora realidade minha e uma senhora realidade sua, digo, em si mesma, igual e imutável! Mas não há. Há em mim e para mim uma realidade minha, aquela que eu me dou; e uma realidade sua e de vocês, para vocês, aquela que vocês se dão - as quais nunca serão as mesmas, nem para vocês nem para mim.

E agora?

Agora, meus amigos, é preciso nos consolarmos com isto: que a minha realidade não é mais verdadeira que a sua, e que tanto a minha quanto a sua duram um só momento.

Sua cabeça está girando um pouco? Então... então concluamos.

*Trecho do livro Um, nenhum e cem mil. Tradução de Maurício Santana Dias

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O lado introspectivo de Maria

Maria sempre teve momento e inflexão, de filosofia, de querer ficar sozinha.

Às vezes, rodeada de gente, ela se fechava, se afastava, não fisicamente, mas no pensamento. As pessoas achavam até engraçado. “A Maria é meio autista”, diziam. “Ela é perdida...”

“Os virginianos costumam se fechar em suas mentes, e se desligam de tudo o que está ocorrendo em volta. Por isso, às vezes dão a impressão de serem autistas”, Maria leu em um livro de signos.

A mãe de Maria sempre diz “Para mim, antes mal acompanhada do que só”. Maria não podia discordar mais. Às vezes, pensava, antes só do que bem acompanhada.

Aí, de repente, recentemente, vai saber porquê, Maria mudou. Passou a sofrer de uma certa carência social. Não queria mais ficar sozinha nunca. Depois da aula, ir para casa e se afastar dos amigos parecia uma tortura, e ficar sozinha em casa no fim de semana não era mais uma possibilidade e, se inevitável, parecia-lhe o fim do mundo. Sentia um vazio estranho...

Podia ser amor pelos amigos, mas ela sempre amara os amigos e isso não acontecia. Podia ser que esses amigos fossem diferentes. Também podia ser a estação fria e a conseqüente necessidade de calor humano, mas Maria já havia passado antes por muitos invernos! Podia ser vontade de que gostassem mais dela, mas isso também sempre foi algo inerente à menina.

O mais interessante é que essa carência social pegou Maria de um jeito que fez com que ela pensasse muito sobre isso, se preocupasse com isso, indagasse o porquê disso. E, na verdade, isso não era importante, era?

Racionalmente, tanto faz as causas! Não era uma coisa que deveria incomodá-la,a menos que ela não tivesse com quem saciar a carência, o que não era o caso. Seria vontade de aproveitar a vida? Ou incapacidade e falta de vontade de suportar a si mesma? Ou, de repente, todas essa reflexões e indagações eram apenas uma forma de o lado introspectivo de Maria, tão silencioso, poder se manifestar.

De fato, foi só essa fase de carência social passar, para que Maria voltasse a ser “autista”. Hoje, ela voltou a ficar feliz em passar o sábado vendo televisão e comendo pizza. E quer saber? Ela está muito melhor assim...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O prazer de ser palhaço

É impressionante como as pessoas se sujeitam cada vez mais a serem palhaças. (Uso no sentido pejorativo: sem ofensas, artistas palhaços!) Não digo nem no sentido de pagar imposto como nunca, de gastar 50 reais pra comer um hambúrguer que vale 10. To falando de circo mesmo.

Fiquei inspirada, como fico todas as quartas-feiras, depois da minha “aula” de ética. Porque esse professor sempre pede para os alunos dizerem o que eles pensam de algum assunto complexo, e eles têm que escrever em uma linha um pensamento que não se esgotaria nem em cinqüenta páginas. É meio que um jogo da sorte, porque se você tiver uma boa idéia, mas o professor não conseguir entender toda a complexidade do seu pensamento durante os 5 segundos que ele gasta para ler sua uma linha (who can blame him?), ele vai ler sua resposta em voz alta para toda a sala em um tom jocoso. E aí toda a sala vai rir de você. E você mesmo ri de você, porque, se não, descobrem que você é que escreveu isso. O resultado é que os próprios alunos alimentam esse circo, em que eles é que são os palhaços. E muitas vezes a frase é de fato muito boa. Se o professor gastasse uns 5 minutos ao menos...

Aí que eu me lembrei de um show da Xuxa que vi uma vez. Uma menina queria ganhar dinheiro, e ela podia ganhar algo como 5 mil reais. Como? Nada mais óbvio: ela tinha um tempo x (acho que dois minutos) para colocar umas 20 galinhas dentro de gaiolas. E não parava por aí. Como era uma superprodução, vestiram a coitada da menina com um macacão jeans, e ela ficava, dentro de uma gaiola gigante, correndo de um lado pra outro, feito tonta, caçando galinhas.

Quando o tempo acabou, ela estava com a última galinha na mão. E perdeu. Todo o auditório gritou “ela merece”. Eu, em casa, até chorei. Mas a menina ficou mesmo sem dinheiro. Hoje, me odeio por ter dado ibope a isso. Mas também não sei dizer com certeza se estava assistindo àquilo porque torcia pela menina pobre ou se porque estava divertido assistir à palhaçada.

Eu poderia dar inúmeros exemplos de situações como essa. Por isso ainda pretendo um dia fazer uma pesquisa sobre esses programas “pseudo-caridosos” que enganam tão bem o público. Talvez meu professor possa me ajudar. Gostaria de saber como ele consegue fazer com que alunos inteligentes dêem nota 9 às suas aulas ridículas, em que, tudo o que ele faz, é ler um texto genial que a gente já deveria ter lido em casa. E ai de quem fizer uma pergunta profunda sobre a obra: quando ele não sabe o que responder, fica bravinho, e consegue – de fato, é um gênio – fazer com que a pergunta inteligente pareça a mais ridícula já feita.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Assalto moderno

- Oi, senhora, espero não está-la incomodando, mas assim... Se não for muito incômodo... se tudo bem pela senhora... É que... na verdade eu nem gostaria de estar fazendo isso, mas é que eu não tenho muito o que fazer mesmo. To perdido nessa vida, mal tenho o que comer, onde dormir... Se a senhora soubesse há quanto tempo eu não bebo uma água limpa... Então, por isso senhora. É... como eu posso dizer? Eu vejo que a senhora parece ser uma boa pessoa. O seu carro não é importado, e parece que nem ar-condicionado tem. Também reparei nas moedinhas que a senhora deixa separado... Imagino que faça caridades e essas coisas. Mas então, senhora, como eu ia dizendo, me desculpe mesmo, eu não gostaria de incomodá-la, mas, de boa, me passa a carteira e o celular se não vou ter que, infelizmente, usar a violência.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Bandidos dinamitam delegacia

- Bom dia.

- Não tem nada de bom.

- É. Eu sei. As paredes estouradas, os inquéritos que sumiram...

- E vai ficar todo mundo espremido nessa sala, porque parece que as outras podem desabar a qualquer momento.

- E pra gente viajar? Não sobrou nada?

- Nada. Vai ser o pior dia do ano.

- Nem mesmo um saquinho? Uma carreirinha?

- Nada. Levaram tudo. Até a caixinha que eu deixo na gaveta, sabe? Com os cigarros já boladinhos... Até isso eles levaram.

- Egoístas.

- Nem me fale. Pô, a gente sempre segura um pouco a barra deles, deixa eles fumarem um mesmo atrás das grades... E a única coisa que os caras deixam é uma espingarda. Onde já se viu? Esquecer uma arma e lembrar até da minha caixinha de cigarros...

- Bom, pensa positivo: com a quantidade de gente que ta vindo pra cá, pra investigar a história, é bom mesmo que não tenha sobrado nada.

- Olha, amigo, honestamente: sem minha carreirinha das 9 horas, não tem pensamento positivo, não...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Um lugar de sonho

Lugar de conhecer estranhos, de se enfiar em almofadas, de receber abraços, de rir sabendo que tudo o que é bom dura o tempo necessário para se tornar inesquecível: meia hora... talvez duas.

Um ambiente meio estilo alternativo pseudo perigoso. Muita gente, gente feliz, gente que não julga, gente que só ama, só ama, só ama. Ama todo mundo, mas não porque está bêbado, mas porque todo mundo é amável todo mundo sorri todo mundo se quer se quer perto.

Lugar de ver o laranja. Pufes laranjas gigantes. Um monte deles, e um monte de gente jogada sobre eles. No meio tem um tapede vermelho, desses materiais aconchegantes. Tem gente deitada nele também. Só feliz. Sentindo-se abraçada. À meia luz, é tudo tão confortável que você sente o abraço de cada um só com o olhar. E, no mundo todo, não há nada melhor do que um abraço. Um abraço é um beijo que conforta o corpo todo. E sua sinceridade é mais fácil de ser sentida do que o beijo. Se você fechar os olhos e tentar ficar um bom tempo imaginando o abraço... não é preciso dizer, você sente. Respiro, penso no laranja, no tapete vermelho, nas pessoas que não julgam, nas risadas altas e gostosas, não de mim, e não necessariamente comigo. Mas que me envolvem de alguma forma. E sinto o abraço.

Queria que a vida inteira fosse só assim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Método quiçá eficaz para emagrecer

Dizem que em spas de emagrecimento há um método praticamente de tortura para que as pessoas não comam comida gordurosa. Trata-se de dar à pessoa apenas um copo d’água e colocá-la no meio de pessoas comendo pizza, hambúrguer, e por aí vai.

Eu ainda tenho minhas dúvidas se esse método é mesmo de tortura ou se é algo inteligente. A verdade é que eu sou suspeita para criticar ou elogiar qualquer tipo de regime, já que sou do tipo que não sofre nem um pouco em comer só um quadradinho de uma barra de chocolate e deixar o resto para depois.

Mas depois de ouvir um comentário de uma amiga da minha mãe – de que se ela fosse mais a teatros, concertos e apresentações de dança, sentiria menos vontade de comer – voltei a pensar no caso dos spas e achei, sim, que o método pode ser bastante eficiente. E sem implicar nenhum tipo de tortura.

Quando você sente um cheiro, consegue sentir o gosto, não? Mesmo algo que você nunca tenha comido. Atire a primeira pedra aquele que nunca disse “Isso tem gosto de xixi” ou “Isso tem gosto de terra”. Paladar e olfato estão intimamente ligados, e sentimos gosto de cheiro, sim.

E aí entra o método. Você está lá, com um copo d’água. Sente aquele cheiro delicioso de pizza. Vê aquele queijo derretido. Até dá pra sentir um gostinho... Mas, sem nada na sua boca, não dá! Como vai sentir um gosto de pizza se dentro da boca só existe ar? É aí que entra o copo de água. Eu acho que, se fosse eu a pessoa de regime, substituiria a água por algo mastigável, meio sem sabor. Tipo bolacha água e sal. Ou matsa. (Matsa é aquela bolacha estranha que os judeus comem na páscoa). Por que, aí, você sente o cheiro da pizza enquanto come algo sem gosto. Como o cheiro é forte, você começa a senti o gosto da pizza, enquanto mastiga uma bolacha não-calórica. Pizza com as calorias de uma bolacha água e sal! Sensacional!

Gostaria de colocar isso em prática um dia... Vai que funciona?!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Doce Fonte, 2a e última parte

Nunca mais ninguém teria que pagar por açúcar. Bastaria que cada um se dirigisse à estrada e pegasse o seu.

Durante os dois meses seguintes, a compra de açúcar nos supermercados caiu para a metade. Havia dois grupos de pessoas que ainda não consumiam o açúcar gratuito: os desconfiados e, principalmente, os sem tempo.

Como “tempo” parecesse um motivo estúpido para que tanta gente gastasse dinheiro com açúcar, e como grandes fabricantes de açúcar estavam desesperados procurando algum outro meio de sobrevivência, surgiu uma nova profissão: os distribuidores de açúcar gratuito. Funcionava mais ou menos como água já funcionou. Não se paga pelo produto, mas pelo transporte e distribuição do mesmo.

No início, os distribuidores eram trabalhadores independentes. Cada um tinha cinco clientes, no máximo.

Com o tempo, porém, grandes empresários formaram grupos de distribuidores. Com dez, depois 50, até chegar a 200 funcionários cada. Agora, mesmo quem tinha tempo para buscar o próprio açúcar, encontrava dificuldade. As máquinas e equipamentos trazidos pelas novas empresas eram perigosos e, assim, somente “pessoas autorizadas” podiam se aproximar do local.

Em dois anos, o abastecimento do açúcar já atingia cinco Estados diferentes, e falava-se inclusive em exportação.

Nos jornais, a polêmica era quanto à estatização das empresas distribuidoras. Em casa, a polêmica era qual delas era a melhor. Uma oferecia, para cada dez sacos de açúcar, um achocolatado em pó feito com “açúcar natural”. Outra oferecia uma caixa dos mais novos cereais feitos com “açúcar natural”, ou, caso o cliente preferisse, uma embalagem contendo 50 saquinhos de adoçante. Outra oferecia, para cada dez sacos e mais 20 reais, uma bola de futebol. Outra não oferecia nada, mas tinha melhores preços. E outra iria sortear no final do ano uma viagem para Disney.

Não houve tempo para o sorteio. Faltando um mês para o fim do ano, o açúcar acabou. O Estado, ainda interessado em monopolizar a distribuição, precisou chamar especialistas para descobrir o motivo de a fonte ter secado: o consumo estava maior do que a produção. “E agora?”, perguntou o presidente. “Como podemos consertar isso?”. Não havia jeito. Era tarde demais. Não havia mais nem um grama de açúcar para se multiplicar. “E melhor ficar atento, senhor presidente, porque a água segue pelo mesmo caminho...”

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lágrimas

Eu sou uma pessoa que chora.

Não uma pessoa manteiga derretida, que chora em filmes e novelas.

Choro com emoções mais internas. Como definir? Choro quando não consigo me expressar, quando não me deixam falar, quando fico estressada, quando acho que alguma coisa não vai dar certo, quando fico muito, mais muito brava.

Já chorei mais. Muito mais. Hoje sou mais controlada. Por “mais controlada” entenda-se que, em vez de chorar todos os dias, eu choro de quinze em quinze, ou até mesmo uma vez por mês.

Mas não estou aqui para escrever sobre isso. Estou aqui para tentar entender um fenômeno que acontece freqüentemente comigo e, pensando sobre ele, concluí que talvez a cauda do fenômeno seja exatamente essa diminuição de choros.

Acontece que, de uns dois anos para cá, eu lacrimejo. Todos os dias. E não são três ou quatro lágrimas. Não. Meu rosto fica todo molhado. É como se eu estivesse mesmo chorando. Posso estar pensando sobre qual é o meu programa preferido na televisão e começar a chorar.

No início, culpei o ar frio ou o vento. Mas depois percebi que lacrimejo mesmo quando não há ar frio ou vento.

Algo curioso é que só começo a lacrimejar se estou sozinha. Nunca com outra pessoa por perto. E aí, se encontro alguém depois, morro de vergonha e de raiva, porque essa pessoa vai achar que eu estou chorando, que estou triste, quando na verdade não estou. E daí? Bem... e daí que, para uma menina que passou parte da infância sendo criticada porque chorava, que já apostou com um colega que era capaz de ficar uma semana sem chorar e perdeu porque no derradeiro dia sua mãe soltou o cinto de segurança em sua cara na porta do colégio, para essa menina, não importa onde ou quem ou o motivo de suas lágrimas, é terrível chorar em público.

Uma das piores situações que já passei lacrimejando foi na faculdade: estava atrasada e descabelada, andando rápido pelo corredor que vai do elevador à sala de aula. E comecei a lacrimejar. Em um instante, já pingavam lágrimas de meu rosto. Pensando no professor e nos colegas que me veriam nesse estado, comecei a me enxugar desesperadamente com as mãos. No caminho, cruzei com pelo menos cinco conhecidos – bixos, veteranos e outros colegas atrasados – e fiquei ainda mais irritada e desesperada em fazer parecer que eu não estava chorando, sendo que, de fato, eu não estava. Como um colega começou a me acompanhar, lado a lado, achei melhor parar de enxugar o rosto, porque isso era praticamente entregar que eu estava disfarçando um choro. Nos dez segundos seguintes, entre o fim do corredor e a porta da sala, fiquei pensando se dizia ou não que eu não chorava, mas sim lacrimejava, devido a algum fenômeno bizarro que me assolava.

No fim, não disse nada. Entrei na sala com o rosto vermelho e molhado. E ainda por cima descabelada. Com uma expressão de raiva que tentava expressar alegria para disfarçar. Inútil. E tudo porque, há muitos anos e a muito custo, consegui me controlar para não chorar todos os dias.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O falso suicida

É fácil.

Uma perna por vez,
Os braços ajudam.
Os pés tocam a estreita mureta
Por trás, no parapeito, as mãos seguram com firmeza.

E quando o corpo estiver para fora da sacada
Quando o vento bater no rosto e despentear o cabelo
Quando a respiração acelerar
Quando o pulmão apertar
Quando o frio vier
Quando o ouvido doer
Quando der sinestesia
Aí chega a tontura.

Basta então tirar,
Ao mesmo tempo,
Os dois pés do chão.

Não é tão difícil.

E quando o corpo estiver para fora da sacada
Quando os olhos desistirem de alcançar o infinito do céu
Quando imagens vierem
Quando da família se lembrar
Quando o coração apertar
Quando pelos amigos quiser chorar
Quando um abraço desejar
Aí chega a consciência.

Leva o tempo de um susto
A briga da vaidade e do egoísmo
Contra a gentileza e a generosidade

É impossível.

E quando o corpo estiver para fora da sacada
Quando os olhos desistirem de alcançar o finito da terra
Quando cada pêlo do braço arrepiar
Quando os dedos dos pés contraírem
Quando os joelhos afrouxarem
Quando as mãos tencionarem
Quando as lágrimas embaçarem as retinas
Aí chega o medo.

Uma perna por vez,
Os braços ajudam.
Os pés tocam o firme chão da varanda
Pela frente, no parapeito, as mãos seguram com firmeza.