terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lágrimas

Eu sou uma pessoa que chora.

Não uma pessoa manteiga derretida, que chora em filmes e novelas.

Choro com emoções mais internas. Como definir? Choro quando não consigo me expressar, quando não me deixam falar, quando fico estressada, quando acho que alguma coisa não vai dar certo, quando fico muito, mais muito brava.

Já chorei mais. Muito mais. Hoje sou mais controlada. Por “mais controlada” entenda-se que, em vez de chorar todos os dias, eu choro de quinze em quinze, ou até mesmo uma vez por mês.

Mas não estou aqui para escrever sobre isso. Estou aqui para tentar entender um fenômeno que acontece freqüentemente comigo e, pensando sobre ele, concluí que talvez a cauda do fenômeno seja exatamente essa diminuição de choros.

Acontece que, de uns dois anos para cá, eu lacrimejo. Todos os dias. E não são três ou quatro lágrimas. Não. Meu rosto fica todo molhado. É como se eu estivesse mesmo chorando. Posso estar pensando sobre qual é o meu programa preferido na televisão e começar a chorar.

No início, culpei o ar frio ou o vento. Mas depois percebi que lacrimejo mesmo quando não há ar frio ou vento.

Algo curioso é que só começo a lacrimejar se estou sozinha. Nunca com outra pessoa por perto. E aí, se encontro alguém depois, morro de vergonha e de raiva, porque essa pessoa vai achar que eu estou chorando, que estou triste, quando na verdade não estou. E daí? Bem... e daí que, para uma menina que passou parte da infância sendo criticada porque chorava, que já apostou com um colega que era capaz de ficar uma semana sem chorar e perdeu porque no derradeiro dia sua mãe soltou o cinto de segurança em sua cara na porta do colégio, para essa menina, não importa onde ou quem ou o motivo de suas lágrimas, é terrível chorar em público.

Uma das piores situações que já passei lacrimejando foi na faculdade: estava atrasada e descabelada, andando rápido pelo corredor que vai do elevador à sala de aula. E comecei a lacrimejar. Em um instante, já pingavam lágrimas de meu rosto. Pensando no professor e nos colegas que me veriam nesse estado, comecei a me enxugar desesperadamente com as mãos. No caminho, cruzei com pelo menos cinco conhecidos – bixos, veteranos e outros colegas atrasados – e fiquei ainda mais irritada e desesperada em fazer parecer que eu não estava chorando, sendo que, de fato, eu não estava. Como um colega começou a me acompanhar, lado a lado, achei melhor parar de enxugar o rosto, porque isso era praticamente entregar que eu estava disfarçando um choro. Nos dez segundos seguintes, entre o fim do corredor e a porta da sala, fiquei pensando se dizia ou não que eu não chorava, mas sim lacrimejava, devido a algum fenômeno bizarro que me assolava.

No fim, não disse nada. Entrei na sala com o rosto vermelho e molhado. E ainda por cima descabelada. Com uma expressão de raiva que tentava expressar alegria para disfarçar. Inútil. E tudo porque, há muitos anos e a muito custo, consegui me controlar para não chorar todos os dias.

Um comentário:

Helena disse...

Eu também tenho isso! Costumo explicar que "o meu olho chora sozinho". Às vezes acreditam.
Beijos, gata!