quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O prazer de ser palhaço

É impressionante como as pessoas se sujeitam cada vez mais a serem palhaças. (Uso no sentido pejorativo: sem ofensas, artistas palhaços!) Não digo nem no sentido de pagar imposto como nunca, de gastar 50 reais pra comer um hambúrguer que vale 10. To falando de circo mesmo.

Fiquei inspirada, como fico todas as quartas-feiras, depois da minha “aula” de ética. Porque esse professor sempre pede para os alunos dizerem o que eles pensam de algum assunto complexo, e eles têm que escrever em uma linha um pensamento que não se esgotaria nem em cinqüenta páginas. É meio que um jogo da sorte, porque se você tiver uma boa idéia, mas o professor não conseguir entender toda a complexidade do seu pensamento durante os 5 segundos que ele gasta para ler sua uma linha (who can blame him?), ele vai ler sua resposta em voz alta para toda a sala em um tom jocoso. E aí toda a sala vai rir de você. E você mesmo ri de você, porque, se não, descobrem que você é que escreveu isso. O resultado é que os próprios alunos alimentam esse circo, em que eles é que são os palhaços. E muitas vezes a frase é de fato muito boa. Se o professor gastasse uns 5 minutos ao menos...

Aí que eu me lembrei de um show da Xuxa que vi uma vez. Uma menina queria ganhar dinheiro, e ela podia ganhar algo como 5 mil reais. Como? Nada mais óbvio: ela tinha um tempo x (acho que dois minutos) para colocar umas 20 galinhas dentro de gaiolas. E não parava por aí. Como era uma superprodução, vestiram a coitada da menina com um macacão jeans, e ela ficava, dentro de uma gaiola gigante, correndo de um lado pra outro, feito tonta, caçando galinhas.

Quando o tempo acabou, ela estava com a última galinha na mão. E perdeu. Todo o auditório gritou “ela merece”. Eu, em casa, até chorei. Mas a menina ficou mesmo sem dinheiro. Hoje, me odeio por ter dado ibope a isso. Mas também não sei dizer com certeza se estava assistindo àquilo porque torcia pela menina pobre ou se porque estava divertido assistir à palhaçada.

Eu poderia dar inúmeros exemplos de situações como essa. Por isso ainda pretendo um dia fazer uma pesquisa sobre esses programas “pseudo-caridosos” que enganam tão bem o público. Talvez meu professor possa me ajudar. Gostaria de saber como ele consegue fazer com que alunos inteligentes dêem nota 9 às suas aulas ridículas, em que, tudo o que ele faz, é ler um texto genial que a gente já deveria ter lido em casa. E ai de quem fizer uma pergunta profunda sobre a obra: quando ele não sabe o que responder, fica bravinho, e consegue – de fato, é um gênio – fazer com que a pergunta inteligente pareça a mais ridícula já feita.

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