quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O lado introspectivo de Maria

Maria sempre teve momento e inflexão, de filosofia, de querer ficar sozinha.

Às vezes, rodeada de gente, ela se fechava, se afastava, não fisicamente, mas no pensamento. As pessoas achavam até engraçado. “A Maria é meio autista”, diziam. “Ela é perdida...”

“Os virginianos costumam se fechar em suas mentes, e se desligam de tudo o que está ocorrendo em volta. Por isso, às vezes dão a impressão de serem autistas”, Maria leu em um livro de signos.

A mãe de Maria sempre diz “Para mim, antes mal acompanhada do que só”. Maria não podia discordar mais. Às vezes, pensava, antes só do que bem acompanhada.

Aí, de repente, recentemente, vai saber porquê, Maria mudou. Passou a sofrer de uma certa carência social. Não queria mais ficar sozinha nunca. Depois da aula, ir para casa e se afastar dos amigos parecia uma tortura, e ficar sozinha em casa no fim de semana não era mais uma possibilidade e, se inevitável, parecia-lhe o fim do mundo. Sentia um vazio estranho...

Podia ser amor pelos amigos, mas ela sempre amara os amigos e isso não acontecia. Podia ser que esses amigos fossem diferentes. Também podia ser a estação fria e a conseqüente necessidade de calor humano, mas Maria já havia passado antes por muitos invernos! Podia ser vontade de que gostassem mais dela, mas isso também sempre foi algo inerente à menina.

O mais interessante é que essa carência social pegou Maria de um jeito que fez com que ela pensasse muito sobre isso, se preocupasse com isso, indagasse o porquê disso. E, na verdade, isso não era importante, era?

Racionalmente, tanto faz as causas! Não era uma coisa que deveria incomodá-la,a menos que ela não tivesse com quem saciar a carência, o que não era o caso. Seria vontade de aproveitar a vida? Ou incapacidade e falta de vontade de suportar a si mesma? Ou, de repente, todas essa reflexões e indagações eram apenas uma forma de o lado introspectivo de Maria, tão silencioso, poder se manifestar.

De fato, foi só essa fase de carência social passar, para que Maria voltasse a ser “autista”. Hoje, ela voltou a ficar feliz em passar o sábado vendo televisão e comendo pizza. E quer saber? Ela está muito melhor assim...

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