terça-feira, 15 de julho de 2008

Aniversário sem bolo

Era o aniversário de Ângela. Haveria, como sempre, um bolinho em casa para a família, após o jantar. A tarde seria a mesma de todos os dias, se não fosse por uma ligação de Gustavo:

- Depois da aula eu vou te buscar. Quero ficar com você essa tarde toda.

Acabou a aula. Ângela saiu. Avistou seu amado com flores e bombons. Achou arriscado. Chamava muita atenção.

- Minha mãe sabe de tudo, já.

Ângela não gostou nem um pouco da situação. Ou melhor, um pouco, ela se derreteu. Flores e chocolates nas mãos do homem que amava... Mas as pessoas iriam falar. Isso não podia ser bom.

- Não mereço um beijo?

Ainda isso! Um selinho. Rápido. Depois de ver se ninguém estava olhando.

- Só isso?

- Eu tenho marido!

- Mãe! – gritou uma voz ao longe.

Por um infeliz acaso, marido e filhos resolveram fazer uma surpresa à mãe naquele ano. Não, eles não viram o beijo. Em verdade, não viram nada que pudesse comprometer Ângela, a não ser as flores e bombons em sua mão e sua cara de surpresa desagradável quando os viu.

- Quem é você? – perguntou Rodrigo, mais preocupado com o fato de ser um corno do que por estar perdendo a mulher.

- Sou... Um amigo de Ângela. E você?

- O marido! Um amigo que dá flores e bombons? Ângela, há quanto tempo você decidiu fazer outras amizades, hein?

Ângela não sabia que o beijo não havia sido visto. Ficou com medo de garantir que eram apenas amigos e ouvir esfregarem-lhe na cara o beijo. Sem saber o que dizer, respondeu:

- Não é nada.

- Ângela, chegou a hora – disse Gustavo.

- Hora de quê? – perguntou Rodrigo.

- E então, Ângela? O que vai fazer?

- Hora? Eu também não sei que hora ele ta falando. Mas sei que é hora de falar pra esse cara aí parar de ficar me mandando flores e bombons. Ele não entende que seu amor não é correspondido!

Todos olharam perplexos. Fabiana, que estava sendo consolada pelo irmão, por um instante voltou a acreditar na mãe.

- Não precisa vir buscar as calcinhas que você deixou na minha casa. Eu deixo na sua portaria.

E pronto. A choradeira voltou. Rodrigo virou as costas. Ângela foi atrás dele gritando que era mentira. Ele pediu para conversarem em casa, pois já haviam chamado muita atenção. Deu dinheiro para que Ângela pegasse um táxi.

Quanto a Gustavo, foi o fim da relação. Nunca mais Ângela o viu.

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