quinta-feira, 24 de julho de 2008

O fim

Nunca mais Ângela viu Gustavo. E a conversa com Rodrigo também não existiu. Não porque o marido tivesse ficado muito decepcionado, coração partido, nada disso. Em verdade, o ocorrido foi um felicíssimo acaso para ele, que há quatro anos mantinha uma amante, a quem, havia dois anos, havia prometido que terminaria o casamento.

Mas, como a todo homem, faltava-lhe coragem. Fora o medo que tinha de que os filhos ficassem do lado da mãe, o que certamente aconteceria. Ângela, porém, deixou tudo mais simples. Agora ele saía como bom homem de coração partido e com o apoio dos filhos. Não precisaria mais agüentar a mulher, a amante ficaria felicíssima com a notícia e só teria que aguardar uns três meses mais para poder mostrar a cara sem o risco de que alguém desconfiasse que a relação existia há muito mais tempo.

Rodrigo, em suma, se deu bem.

Já Ângela perdeu o amigo que tanto amava, que tanto queria que virasse amante, mas que havia rejeitado, em nome de sua família. Família que ela perdeu também. Os dois filhos foram, naquele dia, dormir em casa de amigos. E não voltariam mais para casa, se não uma vez ou outra para pegar alguma coisa.

Odiavam a mãe. Mais do que tudo. E idolatravam o pai.

Ângela chegou a pensar em suicídio. Não teria coragem. Tentou ligar para Gustavo todos os dias durante um mês. Até que tomou coragem e perguntou a Dona Inês o que tinha acontecido com o filho.

- Mudou de telefone. Eu te entendo, Ângela, não te condeno pelo que fez, pela sua escolha. Mas esquece meu filho. Ele mesmo não quer te ver nem pintada.

Ela chorou por dois meses seguidos, sem ninguém para consolá-la. Ninguém.

A não ser Karina, a filha da empregada.

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