sexta-feira, 11 de julho de 2008

A morte de Théo

- Vem logo, Théo!

- Não, não vou.

- Entra!

- Já disse que não.

- Ah, você é muito cabeção mesmo. Vem logo. Ou...

- O quê? Você vem aqui se arriscar?

- Ai, não faz isso. É sacanagem. Ta todo mundo lá dentro. Você é meu melhor amigo. Eu arriscaria tudo por você mas isso já é bobagem. Todo mundo sabe que não tem segunda chance pra quem fica de fora.

- Não me importa.

- Como não te importa, Théo? Como não? Isso é suicídio.

- Não é, não. Suicídio é querer se matar. Eu não quero me matar.

- Então sai daí.

- Não.

- Então quer se matar.

- Não.

- Não to mais entendendo nada. Você quer morrer ou não quer?

- Claro que não quero. Já disse!

- Então por que não entra de vez? Ai, meu deus! O céu. O céu já escureceu. Olha. Olha. Nem dá mais pra ver o sol. Logo logo...

- Isso significa que falta pouco! Estou tão emocionado, Caio! Não estrague esse meu momento. Se quiser me fazer companhia pode ficar. Se não vai pra dentro com os outros.

- E te deixar morrer aí?

- O que posso fazer. É esse o meu grande sonho. Sempre nos dizem que devemos fazer de tudo para ir atrás de nossos sonhos. Esse é o meu.

- Morrer afogado é o seu grande sonho?

- Não. É sentir a chuva. Ver de perto. Como água pode causar um barulho tão estrondoso assim. Tão melódico. Tão... Você já reparou como parece uma orquestra?
- É isso, então? Você vai arriscar a própria vida para ver a chuva?

-Vou.

- Mas se nunca nenhuma formiga sobreviveu a ela...

- Não me importa. Olha! O chão. Já está úmido. Logo chega aqui. Melhor você entrar.

- Théo! Eu te imploro! Entra!

- Obrigado por se importar tanto, Caio. Mas ta tudo bem, é verdade. Não se sinta culpado pela minha morte. Morrerei a mais feliz de todas as formigas. Prometo. Será a morte mais deliciosa. Tenho certeza de que valerá a pena. Não estou louco, não pense isso. Só... Entra, vai. Este é o meu sonho, não o seu. Entra. Fica bem. Pode ficar com minha reserva de açúcar. É tosa sua. Você sabe onde eu escondo. Vai. Seja feliz.

- Você me deixa sem palavras, meu amigo. Tem razão. Não posso fazer mais nada. Tente sobreviver, pelo menos. Por favor.

- Adeus.

- Adeus... Ah! Obrigado pelo açúcar.

- Não tem problema.

Um comentário:

Hana ^^ disse...

melancolicamente doce... =)