segunda-feira, 21 de julho de 2008

Em troca

- Karina! Ô, filha! Que estojo bonito é esse que você trouxe pra casa hoje?

- Estojo?

- É, esse rosa. Achei na sua mochila. Tava procurando uma tesoura emprestada.

- Ah, esse. É bonito, né? É da Aline, uma menina do colégio.

- E por que ta com você?

- É uma história meio longa... Mas eu vou devolver amanhã.

- História longa? Sua filha deu pra roubar agora? – intrometeu-se Ângela, que estava ouvindo a conversa.

- Não! Juro que não roubei! Vou devolver!

- Bom, filha. Conta pra gente o que aconteceu. Você ta parecendo meio nervosa...

- Ta, é que acho que vocês vão me achar esquisita, que nem todo o mundo lá no colégio.

- Não vamos não. Pode falar. A gente promete, não é, Dona Ângela?

- Vamos ver... Conta o que aconteceu.

- Assim: Lá no colégio ta todo mundo colecionando esses selinhos que vem com o Toddynho, sabe? Mas todo mundo só tem poucos, porque a mãe não fica comprando muito, né, por causa do dinheiro. Aí eles conseguem no supermercado, se sobra, se o toddynho fica vencido... – observando os olhares – eu falei que a história era longa!

- Continua, filha.

- Então, só que eu tenho um monte, né, porque o Pedro me dá todos os selinhos dele, e ainda tem os que minha mãe mesmo me compra... Aí me vieram três repetidos, e justo é um que ninguém tem. É muito brilhante, dizem que é raro. E a Aline tava louquinha pra conseguir um desses já faz um tempão. Vocês precisam ver. Nunca vi ninguém gostar tanto de coisa que brilha! Aí, como eu tinha três, perguntei se ela queria um.

- E pegou o estojo dela por causa de um selinho? Mas que absurdo! Se eu fosse sua mãe te dava um castigo!

- Não é isso! Eu não queria nada em troca. Tava sobrando. Mas os outros colegas ouviram e começaram a me chamar de besta, de boba. Ficaram dizendo que era muito raro o selinho, que eu tinha que trocar por outros selinhos ou por outra coisa, mas que eu tava sendo idiota. Todo mundo ficou tirando sarro da minha cara. E aí a Aline disse que eles tinham razão e falou que trocava o estojo dela pelo selinho. Aí, pra todo mundo parar de brigar comigo, eu aceitei. E peguei. Mas já combinei com ela que depois eu devolvo escondido e ela finge que a mãe dela comprou outro pra ela.

- E vai ficar sem nada em troca mesmo? – perguntou Dona Ângela.

- Mas se o selinho ta sobrando, se eu tenho um igual, por que preciso de algo em troca?

- Porque você pode ter algo em troca.

- Mas não é justo. Não custou nada pra mim.

- Essa menina é muito estranha mesmo...

- Ela só é nova na cidade, Dona Ângela. Vai se acostumar ainda.

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