quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ajuda com a pipoca

Apesar de aparentemente sem solução, as crises neuróticas de Ângela deixaram de existir lá pelo 18º aniversário de Fabiana. Foi quando, ainda casada, ela conheceu Gustavo.

Gustavo era o filho de uma das senhoras do curso de cerâmica, Dona Inês. Uma vez por mês, Dona Inês oferecia uma festa em sua casa, ou melhor, não era bem uma festa. Apaixonada por clássico do cinema, ela fazia uma seção, com direito à pipoca, refrigerante e até vinho, se fosse do gosto de algum convidado. O evento era um sempre um sucesso, e toda a sala, de 5 mulheres, ia.

Ângela já havia visto Gustavo uma vez, quando, após jantar com a mãe, ele ia embora no mesmo momento que a festa começava. Mas foi só quando Dona Inês quebrou a perna que ela pôde conhecer mesmo Gustavo.

Ele estava lá, para se a mãe precisasse de alguma coisa e para garantir que ela se comportasse. Médico, não deixava a mãe sequer levantar para alcançar o controle remoto. Havia sido inclusive contra a festa, mas não conseguiu convencer Dona Inês a cancelar a tradição.

Então alguém lembrou que cinema na Dona Inês sem pipoca, não é cinema na Dona Inês. E lá foi Ângela se oferecer para fazê-las.

- Ih, Dona Inês, não acho o sal!

- To indo a...

- Não, mãe. Fica aí. Eu vou lá.

E foi bem essa coisa boba mesmo, de um ajudar o outro na cozinha, e deixar cair o milho, e se abaixarem os dois para pegar o milho, e risadas, e constrangimentos. Foi, digamos, um primeiro flerte, que Ângela nunca pensou que fosse passar disso. Desejou, é verdade, mas estava certa de que seria incapaz de trair o marido.

- Uma simpatia, esse teu filho, Dona Inês!

- É! É médico!

Nenhum comentário: