sexta-feira, 6 de junho de 2008

Na quadra

Esta é a história de um jogador de basquete. Podia ser de futebol, mas achei muito clichê começar com “Esta é a história de um jogador de futebol”. Também poderia ser de handebol, mas no momento preferi basquete. Pode ser que me arrependa depois, mas a decisão foi tomada. E na verdade não se trata da história propriamente dita, mas de alguns detalhes sobre o nosso amigo. Adriano, ele se chama.

Bom, Adriano, o jogador, nosso amigo, era a pessoa mais calma do mundo. Um amorzinho, um fofo. Desses que têm mais amigas que amigos, que toda a mãe pede para a filha namorar, que é só abraços.

A calma não vinha do esporte, da yoga, da alimentação... de nada. Ele nasceu assim. De bem com todos e de bem com a vida. Não achava que nada lhe sobrava nem faltava. Vivia como vivia.

Isso todos os dias do ano, menos os de jogo.

Quando estava na quadra, chamá-lo de estressado era pouco. Talvez por isso mesmo fosse tão bom jogador. Fazia de tudo para pegar a bola e tudo para chegar ao destino dela. Fominha, ultrapassava não apenas seus adversários, mas também os companheiros de time. Um olé atrás do outro.

Ficava surdo. Não escutava o técnico, nem a torcida, nem o apito do juiz. Parava a jogada somente quando percebia que todos os demais jogadores estavam imóveis, de barcos cruzados, esperando ele devolver a bola, caso estivesse com ele – provavelmente estaria.

Não ouvia, mas falava bastante. Urrava, gritava, dizia palavrões, xingava.

Sua face ficava contraída. Os dentes rangiam. Cuspia. Nunca tinha fumado, mas ficava com vontade de fumar. Tinha vontade de bater. De atirar, de matar alguém.

Um dia o técnico resolveu que preferia um jogador não tão bom mas que o respeitasse do que um excelente e insuportável. Foi conversar com Adriano. Adriano não entendeu, ele mesmo não percebia o quão irado ficava durante as competições. O técnico, então deixou que ele jogasse mais um jogo. O técnico filmou o jogo, e mostrou-o ao atleta.

Impressionado, Adriano nunca mais jogou.

Assim como tem gente que, depois de muitas multas, nunca mais dirige. Na verdade não tem muita gente. Mas deveria.

Um comentário:

Jo disse...

rá, boa analogia!
kisses