terça-feira, 17 de junho de 2008

Mãe imperfeita

Ângela era uma boa mãe. Nunca deixara faltar nada aos filhos, emocionalmente e financeiramente. Ela cometia sim alguns erros, mas nada condenável. É verdade, porém, seu temperamento nunca foi dos mais fáceis.

Se algum filho a desobedecia, instintivamente Ângela gritava, esperneava, dava a maior bronca. Nunca bateu, embora talvez tanto Fabiana quanto Pedro preferissem um tapa ao escândalo, que não tinha hora e nem lugar para acontecer.

Certa vez, em comemoração aos 14 anos de Fabiana, a família toda foi jantar em uma pizzaria. Na hora do parabéns, Pedro gritou: “Vamos levantar ela na cadeira!”. Ângela logo cortou: “Não, Pedro, essa pizzaria não é que nem a que você vai com os seus amigos. É um ambiente sério, este. Vai chamar muita atenção”.

Pedro abaixou a cabeça e fingiu obedecer à mãe. Cinco minutos depois, porém, quando ela estava distraída pensando em qual outro sabor de pizza pedir, Pedro e Matheus, um primo, seguraram as pernas da cadeira onde Fabiana estava sentada e em um grande impulso jogaram a menina para o ar, que, imediatamente, soltou um grito de susto, seguido por uma forte gargalhada.

Se nem toda a pizzaria percebeu o berro de Fabiana, com certeza ninguém deixou de arregalar os olhos para a cena que se sucedeu. A doce Ângela parecia que ia ter um ataque nervoso. Gritava, esperneava, chorava, pedia pelo amor de Deus o respeito de seus filhos. Para Pedro, finalmente ficou claro como poderia ser tão horrível a sensação de chamar a atenção de todos da pizzaria. E a culpa, em parte, era dele.

A mulher descabelada só sossegou na manhã seguinte. Não quis sair em nenhuma foto, e nem aceitou uma colherada do pudim de leite que Matheus, com peso na consciência, ofereceu-lhe. E o desassossego não era nem mais pela desobediência do filho. Era, sim, porque, mais uma vez, ela havia exagerado. Havia dado escândalo. Odiava dar escândalo, mas era impossível conter.

Pediu desculpas no dia seguinte, como de praxe. Dizia que não deveria ter feito isso, mas que às vezes essas coisas escapam. Perguntava aos filhos e ao marido se eles não tinham uma idéia de repente para que ela conseguisse controlar os acessos de fúria. Mas não tinham. E o caso dava-se, assim, por encerrado.

Nenhum comentário: