segunda-feira, 16 de junho de 2008

Vida em sociedade

O ano era 1988. Na porta do prédio do “vermelhinho” – como é chamada a pré-escola do Colégio I. L. Peretz – dezenas de crianças barulhentas ganhavam balas. Como eu não estava chorando, eu não ganhei, assim como minha irmã, de 3 anos e meio, dois mais velha do que eu.

Minha mãe foi instruída a continuar no prédio, bem como todas as mães de novos alunos. Ela esperava ansiosa para o momento em que eu sentisse sua falta e chorasse copiosamente até que ela viesse me resgatar com um abraço e as ternas palavras de consolo “Não chora, mamãe tá aqui”. Mas, para sua grande decepção, isso não aconteceu. Durante as três horas do meu primeiro dia de aula, eu desenhei, brinquei e fiz amigos. Principalmente, fiz amigos.

Em julho do mesmo ano, eu passeava no parquinho do Guarujá com a minha mãe quando repentinamente soltei da mão dela e saí correndo. Parei em frente a uma menina ruiva e comecei a pular, enquanto ela, como um espelho, repetia os mesmo gestos na minha frente. Em menos de cinco minutos, minha mãe achou a responsável pela menina ruiva e descobriu que éramos colegas de classe. E, assim, também em menos de cinco minutos, eu descobri as vantagens de se ter amigos: o pai dela pagou para que eu fosse a um monte de brinquedos. Se fosse minha mãe que estivesse bancando a brincadeira, eu teria que escolher dois, no máximo.

Viramos melhores amigas. Eu, a menina ruiva, e uma loirinha, cuja mãe era amiga da mãe da ruiva. Minha mãe perdeu lugar de vez em meu ciclo social. As meninas de cabelos coloridos eram muito mais legais, e os pais delas sempre me ofereciam doces importados. Na casa da loirinha, havia um boneco vermelho que, ao ter o braço pressionado para baixo, deixava cair em sua mão branca um monte de MM’s, aquele chocolate. Mas isso não era nada comparado à máquina de Coca-Cola só dela.

Nossa amizade foi tão intensa, mas tão intensa, que, ao passar para o Ensino Fundamental, a orientadora de escola nos separou, alegando que precisávamos interagir com outras crianças. A partir de então, cada uma de nós assistiria às aulas em uma sala diferente das demais. Foi o começo do fim do nosso trio. Na terceira série, eu escrevi um bilhete para a menina loirinha, para que continuássemos amigas. No dia, ela me deu um abraço e combinamos que nossa amizade não mudaria por causa da escola. Mas, um ano depois, ela era popular e, eu, nerd. Nunca mais nós três fomos amigas.

Outras coisas, porém, não mudaram. A menina que não precisava da mãe para acolhê-la na pré-escola, também rapidamente aprendeu, com as amigas, a andar de ônibus e metrô, dispensando as caronas da mãe. Com quinze anos, tinha independência e a confiança da para viajar sozinha ou chegar em casa a altas horas. Ao mesmo tempo, a perda de amigos a cada mudança de ciclo estudantil também a acompanhou até hoje. Do Ensino Fundamental para o Médio, do Médio para o cursinho, do cursinho para a faculdade. É como se a vida fosse a escola, sempre dizendo: “Está na hora de interagir com outras pessoas”.

Um comentário:

Juliana Dayan disse...

esse post me faz lembrar de um encontro posterior com amenina loirinha, no qual ela, sob sabe-se lá quais efeitos, te abraçava e dizia "diana, você é a minha infância!!!"

beijos da amiga que vem sobrevivendo a algumas mudanças de ciclo e espera sobreviver a todas as outras que vêm pela frente.

te amo!