Teka ficou satisfeita na sexta-feira, quando, ao checar a previsão do tempo para o dia seguinte, descobriu que faria sol.
Ligou para as amigas, combinou que iriam andar no parque, depois tomar sol na piscina, depois nadar um pouco, poderiam também fazer um pique-nique, tomar sorvete, água de coco... Usaria aquele vestido bonitinho, e também aquele perfume cuja fragrância em nada combinava com dias frescos.
“Bom, mas então”, pensou, “se vou na piscina, preciso marcar depilação”.
Ligou para a depiladora e marcou para as 8 horas da manhã, antes da caminhada no parque. Ficou entorpecida pela idéia de que o sábado iria render. Sentiu-se viva, entusiasmada, aflita e, principalmente, ansiosa. Pensou até mesmo em qual calça de caminhada usaria.
Então, quando o despertador tocou as 7:15 da manhã, Teka escutou barulho de chuva. Saiu da cama, abriu a janela e lá estava: uma tempestade.
“Pronto. Já era a caminhada. E talvez até piscina...”
Ligou para a depiladora. Cancelou seu horário. Estranhou algo na forma como fez isso. Sentia-se até um pouco feliz. Parecia até que o fato de poder voltar a dormir mais um pouco compensava a tristeza de que seus planos estavam indo por água abaixo, com o perdão do trocadilho.
Quando o toque do telefone acordou-a do segundo sono, já eram 10 horas.
- Ô, Teka, você viu a chuva?
- Vi. Já era nosso programa, né?
- Pois é. O negócio hoje é ficar em casa assistindo tevê.
Teka respondeu a essa afirmação com o melancólico “É o jeito...”. Mas sentiu uma estranha felicidade, similar a que sentira quando desmarcara a depilação.
Ficar em casa vendo tevê. Podia fazer isso. Não era mal fazer isso. Em verdade... de fato! Era isso! Adorava ficar em casa vendo tevê! Comendo pipoca e bebendo Coca-Cola quente. Caminhar, transpirar, sair, ter que se vestir, se arrumar, pentear o cabelo, socializar... Que coisa cansativa!
Então Teka teve um súbito momento introspectivo e descobriu toda a verdade:
“Eu é que pedi a chuva. Era o único jeito de poder fazer o que eu bem quisesse”.
Ficou apenas com uma dúvida. Se queria tanto ficar em casa, por que fez todos os planos? Por que era o “único jeito”? Por que não poderia fazer isso mesmo se o sol aparecesse?
A esse pensamento, seguiu-se um silêncio denso, profundo. Não vinha apenas dela. Vinha de fora: a chuva cessara e em seu lugar um radiante sol surgira.
- E aí, Tekinha?! Podemos ir na piscina! Passou a chuva. Quanto tempo você precisa?
- Ah, sabe o quê, Mari? Acho que vou ficar em casa mesmo. Ver tevê, comer pipoca... To mais afim.
E veio a resposta às suas indagações:
- Nossa, por que isso? Ta deprimida?
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