segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sem reporter

O fechamento de agosto foi tão corrido e estressante que, no dia seguinte, ninguém foi trabalhar. O diretor de redação, que apareceu lá pelas quatro da tarde para buscar uma jaqueta esquecida, não se preocupou. Para uma revista mensal, o primeiro dia não é lá assim tão importante.

Ele só foi se preocupar mesmo quando voltou à editora uma semana depois e não encontrou ninguém. “Estão todos na rua?”, pensou, enquanto se dirigia à sua semi-sala. Assustou-se quando viu sua mesa coberta por post its. Todos avisando que no tal dia tal repórter não poderia trabalhar pois estava doente.

“Quem colocou esses papeis sobre minha mesa?” Gritou para o pessoal das outras publicações. A secretária da revista ao lado se manifestou: “Fui eu. O telefone não parava de tocar e tava incomodando o pessoal. Então tomei a liberdade de atender e passar os recados. Achei que o senhor fosse encontrá-los logo no primeiro dia – não imaginei que fosse se ausentar por uma semana. Achei prudente não incomodá-lo”. “Mas até meu estagiário?” “Foi inclusive o que me pareceu mais debilitado.”

Ainda antes de se entregar ao completo nervosismo, ligou de um em um para saber qual era o estado do ser. E era mal. Gripe, febre, tosse, falta de ar, vômitos. Ninguém poderia ir para o trabalho tão cedo.

O senhor diretor, então, pôs- se a ligar para todos os free-lancers que conhecia. Mas todos estavam já muito ocupados para receber trabalho de última hora. Lembrou de colegas da faculdade, de amigos desempregados, de familiares vagabundos. Nada. Ninguém queria ajudá-lo, com exceção de três que estavam de cama com rubéola.

Foi então que ele relaxou e riu. Era sonho. Não podia ser outra coisa se não um sonho. Todos doentes? Por tanto tempo assim? Sonho, pesadelo. Não era real.

Foi para casa pensando assim. Cochilou. Ouviu a porta abrir. Em seguida, sua mulher chamar seu nome. “Que bom que chegou. Eu to sonhando?” “Não, com certeza não”, respondeu rindo. Ele ligou novamente à redação q e quem atendeu foi a secretária da revista do lado. “Não ninguém chegou não.”

Sucedeu-se então aquela série de pensamentos que todo jornalista já imaginou que terá algum dia. “Minha revista não vai fechar. A culpa não é minha. Mas vão me culpar. O que eu faço? Não é minha culpa. Quem vai acredita em mim? Vou ser mandado embora. To arruinado.”

Muito pelo contrário, a edição daquele mês foi um sucesso de vendas. Cem mil exemplares vendidos. 35 mil vendidos em banca. A capa “Edição especial: retrospectiva – As matérias mais comentadas do ano, com os comentários do Diretor.” Trouxe uma mensagem importante à empresa jornalista da época: jornalista pode ficar doente.

Nenhum comentário: