segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um amigo de Gisele VI

Minha vida era saber o crime de Gisele. Não me importava com mais nada além disso. Por isso me casei com a moça, quinze anos mais nova do que eu.

O raciocínio era simples: todos na família de Gisele pareciam saber a história. Então, para que eu também soubesse, bastava ser um deles. Bastava me casar com ela.

Há dois anos comecei a cortejá-la. De início, ela não pareceu me levar a sério. Dizia que que não era nem bonita e nem doce, mas sim sombria e estranha. Ligava para ela quase diariamente, sempre a elogiando, convidando-a a sair. Gisele nunca aceitava, mas percebi que as conversas ao telefone tornavam-se mais longas a cada dia.

Entendi isso como um progresso, e finalmente, no seu aniversário, escrevi uma carta, acompanhada de flores, chocolates e um livro do patinho feio. Sabia já seu ponto fraco.

“Gisele,

Não agüento mais essa angústia pela qual você me faz passar. Te amo, e sei que sou correspondido. Então por que não me aceita?

Não acredita no meu amor, é isso? É por causa disso que estou te dando este livro. Para que você acredite que ser diferente das outras mulheres não significa ser estranha, mas sim ter outra beleza. E é essa mesma beleza que fez com que eu me apaixonasse por você, não parasse de pensar em você nem mesmo por um segundo (...)

Por favor, me aceite. Estou com passagens compradas para a África. É para lá que vou se você não me quiser”.

No mesmo dia, já de madrugada, ela foi à minha casa. Recebi-a com um beijo carinhoso, mas fui surpreendido por uma Gisele intensa que, em menos de um minuto, já se encontrava deitada sobre minha cama. Dois meses depois, nos casamos.

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