quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um amigo de Gisele VIII (final)

Não queria magoá-la, mas queria menos ainda continuar casado. Durante o mês seguinte, fui um péssimo marido. Chegava em casa, ligava a televisão, perguntava o que tinha de jantar e ia dormir. Não dava bom-dia nem boa-noite. Tratei-a, enfim, como se fosse uma moça qualquer que freqüentasse minha casa.

Então uma noite tomei coragem e disse que queria conversar.

- Pode ser... – disse com um delicado sorriso no rosto - Mas não aqui em casa. Vamos dar uma volta, o céu está tão bonito.

Insisti para ficarmos, mas ela tanto teimou que acabei concordando.

Não havia muito movimento na rua. Apenas um ou outro carro passava de tempo em tempo. Enquanto circulávamos o quarteirão, comecei a dizer o quanto ela era especial para mim, e como seria difícil falar o que ela precisava saber:

- Não te amo mais.

Ela ficou calada. E ainda com o sorriso impresso em sua face. Continuou andando sem dizer uma palavra, um murmúrio sequer.

- Gi, fala alguma coisa.

Então ela segurou uma tábua de madeira que estava jogada no chão é me bateu. Centenas de vezes. Caí inconsciente e acordei no hospital, ela chorando sobre os meus pés, sendo abraçada pelos pais. Eu gritei para que ela saísse e me deixasse em paz. Disse ao bom casal que sua filha era uma assassina. E Gisele disse:

- Ah, não. Você também, não... Não fui eu, meu amor, foram os bandidos...

Foi quando o médico explicou a todos os presentes que por causa das batidas, eu podia ter sofrido algum problema de memória. Todos disseram já ter presenciado algo parecido, e me censuraram por continuar insistindo na culpa de Gisele. Finalmente, acharam melhor me internar aqui na clínica. Cá estou. E você? Você também parece bastante são para estar aqui.

- Pois é, meu caro. E acredito em cada detalhe de sua história. Sou o falecido marido de Gisele, ou melhor, um amigo de Gisele. A louca queria casar comigo, eu não aceitei, ela me encheu de pauladas. De resto, tudo aconteceu exatamente como com você, com uma diferença: algumas pessoas chegaram a acreditar em mim, e foram investigar a história. Mas a doida conseguiu provar, com falsas testemunhas, que era inocente. Agora senta aí porque, a partir do momento que diagnosticaram em você problemas mentais, nunca te acharão 100% são.

Um comentário:

Anônimo disse...

Geeenteee!!!! o cara passou a vida toda tentando desvendar um crime e virou louco? coitado...